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Vagner Mancini: a trajetória do técnico que uniu o “futebol raiz” à filosofia de Jürgen Klopp para reerguer o Bragantino

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Vagner Mancini: a trajetória do técnico que uniu o “futebol raiz” à filosofia de Jürgen Klopp para reerguer o Bragantino
Vagner Mancini: a trajetória do técnico que uniu o “futebol raiz” à filosofia de Jürgen Klopp para reerguer o Bragantino (Foto: Reprodução)

Trajetória em Foco – Matérias especiais sobre os protagonistas do futebol

Quem é Vagner Mancini e por que seu trabalho no Bragantino está em pauta?

Vagner Mancini é, em novembro de 2025, o nome central de uma das reações mais surpreendentes do Campeonato Brasileiro. Contratado às pressas para corrigir a rota de um Red Bull Bragantino em queda livre, o treinador mudou a atmosfera do clube em poucas semanas.

Tirou a equipe do risco real de entrar no Z-4, recolocou o time na parte superior da tabela e reabriu a discussão sobre uma vaga internacional que parecia distante no início de outubro.

Com mais de vinte anos de carreira, Mancini carrega a fama de “salvador”, um técnico que entra em situações complicadas e costuma entregar resultados imediatos. É um rótulo que nasceu de repetidas intervenções bem-sucedidas, mas que também acompanhou uma trajetória marcada por desafios, mudanças constantes e curtos ciclos. Para o Bragantino, no entanto, esse histórico era justamente o que a diretoria considerava necessário diante da urgência.

Sua identificação com o clube não surgiu agora. Mancini foi jogador do Bragantino no início dos anos 1990, período em que a equipe vivia seus momentos mais competitivos no futebol nacional. Essa passagem criou um vínculo emocional que ele próprio menciona como motivação pessoal para aceitar o convite. Ao retornar mais de três décadas depois, encontrou um clube completamente diferente, remodelado pela filosofia austera, vertical e metódica da Red Bull.

A razão pela qual Mancini está em pauta não se resume aos resultados. A grande curiosidade está em como um técnico marcado pelo pragmatismo conseguiu adaptar sua visão à complexa metodologia de trabalho da multinacional austríaca. Em poucas semanas, ele reorganizou a estrutura de jogo sem romper com a ideia de intensidade e protagonismo que é marca registrada da Red Bull.

Vagner Mancini durante partida entre Red Bull Brganatino e Corinthians pelo Brasileirão 2025. Foto: Joisel Amaral/AGIF

Qual foi a trajetória de Mancini antes de retornar a Bragança?

Mancini construiu um caminho singular no futebol brasileiro. Seu nome apareceu no radar nacional de forma definitiva em 2005, quando comandou o modesto Paulista de Jundiaí ao inesperado título da Copa do Brasil. Aquela conquista o apresentou ao país como um técnico ousado, estratégico e capaz de extrair o máximo de elencos limitados.

Antes disso, ele já tinha uma relação afetiva com a região. Atuou como jogador do Bragantino entre 1991 e 1992, num período em que o clube disputava as cabeças do Campeonato Brasileiro. Essa passagem criou uma identificação instantânea com a cidade e com a torcida, um laço que se manteve mesmo ao longo de sua carreira como técnico.

Após o título nacional, Mancini se consolidou como um especialista em operações de impacto. Treinou clubes como Grêmio, Corinthians, Santos, Vitória, Chapecoense e América-MG, geralmente em contextos de crise, e quase sempre entregou soluções rápidas. Com o tempo, esse perfil de “técnico de tiro curto” passou a ser parte de sua identidade profissional.

Em 2025, sua passagem pelo Goiás terminou com uma demissão precoce após um período irregular na Série A. Ainda assim, o mercado percebia em Mancini um treinador com grande capacidade de ajuste imediato, especialmente para equipes em queda de desempenho. Foi assim que, poucas semanas depois, seu nome voltou a ser ventilado, desta vez, para um desafio familiar: resgatar o Bragantino.

Quando Mancini assumiu o Bragantino e qual era o desafio?

O anúncio oficial veio em 30 de outubro de 2025. Mancini chegava com contrato curto, válido apenas até dezembro, e com uma missão clara: impedir que o Red Bull Bragantino afundasse ainda mais em um momento crítico do Brasileirão. O clube estava em 12º lugar, mas o cenário enganava. A equipe vivia um declínio técnico e emocional, com apenas cinco pontos de vantagem para o Z-4 e um clima preocupante nos bastidores.

Fernando Seabra, demitido na véspera, deixava um Bragantino sem confiança, com dificuldades ofensivas e uma instabilidade defensiva incomum para um time que, até meados da temporada, figurava no G-6. A grande questão era se o estilo de Mancini — mais direto, mais pragmático — se encaixaria na estrutura de um clube que exige agressividade, marcação alta e jogo vertical.

Entre dúvidas internas, expectativas externas e pressão da classificação, Mancini iniciou sua jornada com o ambiente típico de quem assume em meio à turbulência. Mas sua resposta foi imediata.

Qual é a relação entre Vagner Mancini e Jürgen Klopp?

A chegada de Mancini não passou apenas pela diretoria brasileira. Desde 2025, a Red Bull passou a contar com Jürgen Klopp como Diretor Global de Futebol, cargo que implica supervisão direta sobre todos os clubes da empresa pelo mundo. Isso significa que toda mudança estrutural relevante, como a escolha de um novo técnico, passa pelo crivo do alemão.

Segundo informações de bastidores, antes da assinatura do contrato, Mancini participou de uma reunião com Klopp realizada por videoconferência, com auxílio de tradutor. A conversa serviu para alinhar conceitos táticos, discutir perfis de elenco e definir diretrizes para o modelo de jogo do Bragantino. Klopp, defensor convicto do futebol intenso, pressionado e vertical, avaliou que Mancini poderia se adaptar.

Na entrevista de apresentação, Mancini reforçou essa convergência de ideias. Disse que sua visão de futebol “se encaixa” com a forma como o Bragantino joga. A declaração, segundo pessoas próximas ao elenco, teve impacto imediato, ajudando a legitimar sua liderança rapidamente.

Para um grupo de jogadores majoritariamente jovem, moldado pela filosofia europeia de desenvolvimento, o aval de Klopp não é um detalhe. Ele muda a percepção interna sobre o técnico e atenua possíveis resistências à mudança de comando.

(Foto: Reprodução)
Vagner Mancini durante sua passagem pelo Goiás em 2024. Foto: Isabela Azine/AGIF

Como o Bragantino reagiu sob o comando de Mancini?

A reação foi mais rápida do que o esperado até pelos mais otimistas. Após uma estreia competitiva, mas com derrota para o Bahia, o Bragantino engatou três vitórias consecutivas. Os triunfos sobre Corinthians e Atlético-MG tiveram peso simbólico enorme, pois mostraram um time mentalmente renovado e taticamente mais organizado.

Mancini promoveu uma recuperação que começou pela confiança. Simplificou a saída de bola, reorganizou o sistema de marcação e ajustou a pressão no campo adversário para um nível que o elenco conseguia sustentar. Ao mesmo tempo, preservou a essência ofensiva da equipe, mantendo a verticalidade característica da Red Bull.

A virada de chave ficou evidente na postura em campo: menos ansiedade, mais agressividade e um entendimento coletivo mais claro sobre o que fazer em cada fase de jogo. A partir do segundo compromisso, o time passou a criar mais chances, a marcar em bloco e a atacar os espaços com precisão.

Com o G-6 podendo se transformar em G-7 ou até G-8 por causa de resultados paralelos, o Bragantino ressurgiu como candidato real a vaga internacional. Algo impensável semanas antes.

O que Mancini diz sobre seu retorno e a metodologia Red Bull?

O técnico não escondeu a emoção ao retornar ao clube que fez parte de sua história como jogador. “Bragança Paulista e Bragantino são parte da minha história. É especial voltar a uma casa onde você foi bem recebido”, afirmou logo no início de sua apresentação.

Sobre o aspecto tático, reforçou que sua visão se alinha ao projeto atual: “A maneira como joga o Red Bull Bragantino e a maneira como pensa o Mancini sobre futebol se encaixam.”

Para ele, apesar da tecnologia, da análise avançada e de toda a estrutura oferecida pela Red Bull, o jogo ainda exige um elemento básico: competitividade. Essa combinação, experiência humana com metodologia moderna, foi justamente o que a diretoria buscava.

Mancini permanecerá para a temporada 2026?

A continuidade ainda não está garantida, mas ganhou força. O contrato atual vai apenas até dezembro, mas a reação em campo, o respaldo do elenco e a boa relação com a estrutura global colocam Mancini como nome forte para o projeto de 2026.

Internamente, há a visão de que o técnico pode deixar de ser o tradicional “bombeiro” e se tornar um líder de continuidade — algo raro em sua carreira. A presença de Klopp na supervisão esportiva também pode influenciar favoravelmente, já que o alemão valoriza processos consistentes e evoluções sustentáveis.

Se confirmado, será uma oportunidade para Mancini provar que a experiência acumulada no futebol brasileiro e a metodologia europeia não precisam existir como opostos, mas como complementares.

(Foto: Reprodução)
Vagner Mancini técnico do Bragantino durante partida contra o Corinthians no estadio Cicero De Souza Marques pelo campeonato Brasileiro A 2025. Foto: Anderson Romao/AGIF

O renascimento de um técnico e a alma de um clube

A história recente de Mancini no Bragantino é, no fundo, uma narrativa de reconstrução. Um técnico veterano, frequentemente chamado para apagar incêndios, que precisou do aval do maior treinador do mundo para assumir um elenco jovem e cheio de expectativas. Uma equipe em queda, que encontrou em um discurso direto e em ajustes simples a força para reagir.

A temporada de 2025 pode marcar não apenas a virada do Bragantino, mas também o renascimento de Mancini em um novo patamar de gestão esportiva. Ele mostra que ainda existe espaço para treinadores experientes em ambientes modernos e metodológicos, desde que haja adaptação, leitura e liderança.

Resta saber o que virá nos próximos capítulos: Será que a parceria improvável entre Mancini e a visão de Klopp levará o Bragantino de volta à Libertadores?Ou o “Mancinismo” será apenas mais um remédio eficaz, porém temporário, para um time que segue em busca de uma identidade definitiva?