Em uma coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira, 26 de novembro, o ex-presidente Jair Bolsonaro reafirmou seu apoio ao Projeto de Lei da Anistia, voltado aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Segundo Bolsonaro, a aprovação do PL é fundamental para a “pacificação” do país, que tem vivido tensões políticas e judiciais desde o início do ano. A proposta, que gera polêmica e divide opiniões entre parlamentares e a sociedade, ganhou destaque novamente após um incidente em Brasília no dia 14 de novembro, quando um homem foi preso portando artefatos explosivos caseiros.
Bolsonaro afirmou que o projeto segue de pé e está em tramitação no Congresso, destacando que acredita na promessa do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, em dar andamento à matéria antes do final de seu mandato, previsto para 2025. A declaração ocorre em um momento de articulações políticas na Casa, onde o apoio do PL, partido do ex-presidente, à candidatura de Hugo Motta à presidência da Câmara foi condicionado ao avanço do PL da Anistia. Motta, do Republicanos da Paraíba, conta com o suporte do grupo liderado por Lira, que, segundo Bolsonaro, teria se comprometido a encontrar uma solução para a questão.
O líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes, também reforçou a expectativa de que Arthur Lira cumpra sua palavra. Segundo Côrtes, o PL da Anistia é visto como uma oportunidade de superar as divisões criadas pelos eventos de 8 de janeiro, quando manifestantes invadiram e vandalizaram as sedes dos Três Poderes em protesto contra o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Para aliados de Bolsonaro, a anistia seria um gesto de reconciliação nacional e ajudaria a reduzir a polarização que domina o cenário político desde as eleições de 2022.
Apesar das declarações otimistas, o tema permanece controverso. Críticos da proposta argumentam que a aprovação do PL poderia enfraquecer o combate ao extremismo político e passar uma mensagem de impunidade aos responsáveis pelos atos antidemocráticos. Já os defensores afirmam que a medida é necessária para evitar que o Brasil mergulhe em uma espiral de perseguições políticas e para permitir que o país volte a focar em temas mais urgentes, como economia, segurança e saúde.
O incidente em Brasília no início do mês também trouxe novos questionamentos sobre o clima de instabilidade política. As explosões envolvendo um homem com artefatos caseiros reacenderam os temores sobre possíveis atos de violência motivados por questões políticas. Embora o caso tenha sido rapidamente controlado pelas autoridades, ele foi utilizado por opositores do PL da Anistia como um argumento contra a proposta, sob a alegação de que ela poderia estimular novos episódios de radicalismo.
Além do PL da Anistia, Bolsonaro mencionou outro ponto que, segundo ele, seria crucial para a pacificação do país: o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Moraes tem sido um dos principais alvos de críticas do ex-presidente e de seus apoiadores devido às decisões tomadas no âmbito de investigações contra atos antidemocráticos e ataques às instituições. Bolsonaro afirmou que, enquanto o ministro continuar no cargo, será difícil alcançar a plena harmonia entre os Poderes e a sociedade.
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No Congresso, o tema do impeachment de Moraes é tratado com cautela. Apesar de contar com o apoio de uma parcela dos parlamentares mais alinhados a Bolsonaro, a medida enfrenta resistência tanto na base governista quanto em setores do Centrão, que têm buscado manter uma relação de equilíbrio com o Judiciário. Por outro lado, a insistência de Bolsonaro em trazer o assunto à tona mantém sua base mobilizada e reforça o discurso de oposição ao governo Lula e ao STF.
O cenário político, portanto, segue marcado por incertezas. Enquanto Bolsonaro e seus aliados trabalham para aprovar o PL da Anistia e fortalecer sua influência no Congresso, a oposição e movimentos sociais prometem intensificar a pressão contra a medida, argumentando que ela seria um retrocesso no processo de responsabilização dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Por outro lado, os desafios enfrentados pelo governo Lula, como a retomada do crescimento econômico e o controle da inflação, também impactam as articulações em torno do tema, que pode se tornar um dos grandes embates políticos de 2024.
Com as eleições para a presidência da Câmara se aproximando, a relação entre Bolsonaro, Arthur Lira e Hugo Motta será determinante para o futuro do PL da Anistia. Caso o projeto avance, será um marco na estratégia bolsonarista de reposicionamento político após a derrota nas eleições de 2022. No entanto, se encontrar obstáculos, pode representar mais uma frustração para o grupo do ex-presidente, que busca retomar o protagonismo no cenário nacional. Enquanto isso, a sociedade observa com atenção os desdobramentos, dividida entre os que veem a anistia como um passo em direção à reconciliação e os que temem que ela abra precedentes perigosos para a democracia brasileira.